Hoje vendo um vídeo do canal elementar no youtube sobre nostalgia, liberou em mim lembranças da minha infância e adolescência. Ainda mais hoje que seria aniversário do meu avô, uma das pessoas mais importantes na minha vida.

Lembrei dos domingos em família quando minha avó era viva, dia de reencontrar meus primos, meus primeiros amigos, meus tios que já estavam casados.

Naqueles domingos a família se reunia, deveria ser similar a outras famílias, não sei. Bem, lembro de brincar com meus primos, minhas tias mais novas.

As mulheres arrumando o almoço, os homens saíam para comprar refrigerantes e cervejas, não era nada muito grandioso quanto hoje, as garrafas de refrigerante eram de 1 litro, duas ou três garrafas de vidro, que pela cor e formato da garrafa já sabíamos qual era o sabor.

Mas quero falar especialmente, do aniversariante de hoje, apesar de gostar de uma festa, não me lembro de festas de aniversários dele com grandes festas. Mas, sempre algo mais intimista, seu aparelho de som, seus discos, depois seus cds, de samba, especialmente Fundo de Quintal – ousaria dizer que era o fã mais entusiasmado, Zeca Pagodinho…

A sua música predileta tocava, e ele sempre refletia sobre a letra, para ele era a parte principal da música, entender o que o poeta quis dizer, transmitir com aquelas frases. Aliás o português era uma paixão para ele, ficava bravo e discutia sobre o estrangeirismo.

Certa vez só descansou quando conversou com o diretor responsável por uma revista de assinatura que colocou o segundo em algarismo arábico, até então eu não sabia dessa diferença. Então ele explicou, em nomes deveriam ser sempre usados algarismos romanos para determinar sequência, por exemplo João Paulo II e não João Paulo 2o.

Tinha seus ditados populares que eram quase um xingamento aos que sabiam para não chamar de burro/ignorante, “Cabeça não foi feita para carregar cabelo” ou “Cabeça não foi feita para separar as orelhas”, “Cabeça foi feita para pensar!”.

Ele foi um dos homens mais corajosos que eu conheci, me ensinou coisas muito valiosas para minha vida, como lutar/brigar pelas coisas que eu quero (não foi da melhor forma possível, mas é uma história que guardo com muito carinho), foi sempre um grande incentivador do conhecimento e mostrar que a gente podia mais. E sempre falava “Ele/Ela é bom/boa”.

Grande admirador do futebol e de sua história, aliás, sempre tinha histórias para contar. Jogadores como Pelé, Ademir da Guia, Mauro Ramos de Oliveira, Jairzinho, Edu, Tostão, Rivelino sempre eram motivos de nostalgia juntos com os narradores como Fiori Gigliotti, Osmar Santos e José Silvério, afinal eles contavam as histórias daquele jogo nas transmissões.

Aliás, meu avô era um exímio contador de histórias, com uma riqueza de detalhes de uma pessoa que fez da leitura sua profissão – quase extinta, ele era gráfico (profissional que trabalhava na indústria gráfica). Quando havia uma discordância sobre a grafia de alguma palavra, ele mandava buscar “O pai dos burros” (dicionário – item obrigatório ter em casa) e ainda zombava da sua cara quando ele mostrava que estava certo, não importava se você era filho, neto ou chefe dele.

Sempre que podíamos sentávamos e conversávamos, até distante, até o último dia da sua vida conversamos via chamada de vídeo.

Isso também é algo que vou levar para vida, como rimos naquele dia, mal eu sabia que era nossa última conversa em família, mas foi apenas mais uma conversa gostosa de tantas que tivemos, ele estava presente no meu primeiro dia de trabalho de carteira assinada, sem querer é verdade, na minha colação de grau e formatura, não esteve em meu casamento por motivos de saúde, porém, até nesse dia conversamos.

Algumas coisas foram se perdendo e eu não consigo fazer mais depois de algumas partidas como as de meu pai, avô e padrinho. Ele teria ficado feliz em ver seu time de coração ser campeão da libertadores esse ano o “Fru”, está aí uma coisa engraçada, apesar de ser torcedor do Fluminense ele ensinou aos filhos a torcerem para o Santos Futebol Clube, vai entender. Falávamos mais do Santos do que qualquer outra coisa.

O nosso último jogo de futebol juntos foi Barcelona 6 x 1 PSG, o Neymar destruiu nesse jogo, estava em São Paulo naquele dia, que aliás foi uma das poucas vezes que eu o vi sem camisa – outro detalhe interessante.

Cada encontro nosso, por mais que falássemos sobre os mesmos assuntos ou escutássemos as mesmas músicas, cada encontro era único, fosse em casa, na sua banca de jornal, os dias, tardes ou noites eram diferentes.

Dona Socorro na pia da cozinha, ele sentado na sua cadeira e eu na outra, ou sentados na sala, na poltrona da casa da minha avó, ou na varanda na passagem do quintal ou cozinha, lá em casa com meu pai e minha irmã a noite, depois do jantar que minha mãe tinha feito.

Mas a lembrança mais nostálgica de todas era estar deitado no seu colo para assistir ao jornal depois de jantar a comida da minha avó!

É, são muitas lembranças que mal cabem aqui, daria um livro.

Sua música favorita vô!

Nó Na Gravata

Fundo de Quintal

Pode ser que eu não tenha te amado direito
Mas se a gente encarar do meu jeito
Você vai perceber que estou certo afinal
Meu amor por você é uma carta marcada
Você sabe que ganha a parada
Abusando de mim e pagando geral

Pode ser
Que eu esqueça presentes e datas
Que eu afrouxe esse nó na gravata
E acabe na roda de amigos num bar
Pode ser
Mas tudo isso é uma rede de intrigas
Dessa gente que quer nossas brigas
E só pensa em nos separar

Se você tá me querendo
Me chama que eu vou
Esquece
O pior já passou
Me abraça
E me fala de amor
Perdoa
Eu não posso mais ficar
Desse jeito que estou
Sozinho
E carente de amor
Eu quero é ficar com você
Na boa…

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